Em uma relação saudável, ambos os indivíduos reconhecem a autonomia um do outro e se beneficiam das semelhanças e diferenças recíprocas.
O ser humano é um ser social. As faculdades humanas tais como a cognição, afetividade e espiritualidade, só se desenvolvem com o cuidado dos processos orgânicos e as relações interpessoais, essas relações permitem a construção da personalidade.
Desde o nascimento (até mesmo antes deste), o ser humano está imerso em um ambiente social e experimenta inúmeros momentos de interação e atenção compartilhada. Esses momentos possibilitam o desenvolvimento de habilidades práticas, intelectuais, afetivas e relacionais, que fazem parte de um único sistema integrado.
Segundo a concepção sistêmico-relacional, é impossível abstrair o indivíduo das relações com os outros e nenhum condicionamento é absoluto. A exclusão do condicionamento absoluto ocorre quando o homem desenvolve o sistema simbólico. Este permite um novo tipo de interação social, com efeito cumulativo da capacidade individual.
Nosso modo de se relacionar, ou de dar e receber amor e carinho, forma-se desde a infância por meio das relações com as figuras de referência e também com as experiências que vivemos gradativamente ao longo do tempo. Às vezes, padrões podem se formar e nos guiar de maneira automática e inconsciente, o que pode se tornar uma armadilha relacional.
Como seres humanos, não podemos evitar estabelecer relações com os outros. A vida em casal, por exemplo, atende a algumas necessidades fundamentais.
Em uma relação saudável, ambos os indivíduos reconhecem a autonomia um do outro e se beneficiam das semelhanças e diferenças recíprocas. É uma relação na qual ambas as partes, com carinho e confiança, buscam se desenvolver e crescer juntos, garantindo liberdade de escolha para desenvolver hobbies, paixões e interesses pessoais.
Ao oposto, uma relação pode ser patológica (marcada por violência, como a única forma de comunicação) ou disfuncional, como nos relacionamentos de dependência afetiva, onde o amor se torna como uma “droga” e o comportamento do outro afeta de maneira obsessiva e repetitiva o bem-estar da pessoa dependente afetivamente, transformando-se em sofrimento.
Se notamos que nossas relações de casal seguem um padrão semelhante, que chegamos com frequência aos mesmos pontos críticos relacionais e que nossas relações interpessoais frequentemente nos deixam insatisfeitos, é hora de nos darmos conta de que talvez seja necessário trabalhar em nossa capacidade relacional para eliminar problemas e estabelecer relações saudáveis e equilibradas.
Os problemas relacionais condicionam os nossos relacionamentos interpessoais, repetindo-se em um esquema disfuncional e negativo. Trabalhando sobre si mesmos é possível sair desse círculo vicioso.
É importante lembrar que o único elemento da relação que podemos mudar e trabalhar é nós mesmos. Insistir para que a outra pessoa mude é uma estratégia sem saída. A chave é entender qual é o esquema relacional disfuncional que eu coloco em ação e como a outra pessoa responde, criando uma interação semelhante às peças de uma quebra-cabeça.
Reconhecer nossas próprias emoções dolorosas é o primeiro passo para superá-las. É muito útil expressá-las e compartilhá-las com pessoas de confiança. Outras pessoas nem sempre conseguem entender e oferecer o apoio que precisamos, mas falar sobre isso pode ajudar a obter esse apoio. Se os esquemas relacionais disfuncionais persistirem e se tornarem difíceis de controlar, afetando nossas atividades diárias, o suporte de um profissional é fundamental para interromper o ciclo de comportamentos disfuncionais e abusos.
A psicoterapia oferece a oportunidade não só para lidar com traumas do passado, mas também para aumentar nossa capacidade pessoal e recursos individuais para enfrentar os desafios do dia a dia.